Guerra: bancos centrais agora precisarão intensificar a vigilância sobre as pressões inflacionárias (MEGHDAD MADADI / TASNIM NEWS/AFP)
Repórter Exame IN
Publicado em 14 de junho de 2025 às 15h07.
O momento já frágil da economia global ficou ainda mais delicado com os ataques recentes entre Israel e Irã.
“Conflito também eleva os riscos tanto para o crescimento econômico quanto para a inflação, justo quando a flexibilidade nas ferramentas fiscais e monetárias que podem ser usadas em resposta se tornou limitada”, escreve o economista Mohamed El-Erian, presidente do Queens' College, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, em sua coluna no Financial Times.
O grau de gravidade dos efeitos adversos dependerá da magnitude e da duração do ataque unilateral de Israel e da retaliação que ele desencadear. No entanto, observa o economista, o mercado reage ainda pior dado o nível já elevado de incerteza.
O preço do petróleo está sendo negociado em alta de mais de 7%, em torno a US$ 74 por barril. Ainda que esteja abaixo dos picos de janeiro, a commodity vem se valorizando e intensificando os ventos estagflacionários que atravessam a economia mundial.
Os mercados de ações caíram, levando em conta incertezas agora ainda maiores sobre a atividade econômica, e há um risco crescente de que consumidores e produtores fiquem ainda mais hesitantes, aponta El-Erian.
Em junho, o Banco Mundial projetou uma desaceleração no crescimento global para 2,3% em 2025, quase 0,5 ponto percentual abaixo do que estimava no início do ano. O Banco Mundial não prevê uma recessão, mas adverte que, se as previsões para os próximos dois anos se concretizarem, o crescimento médio global nos primeiros sete anos da década de 2020 será o mais lento entre qualquer década desde a de 1960.
“Tudo isso presumindo cotações médias do petróleo de US$ 66 por barril em 2025 e de US$ 61 em 2026, acompanhadas de uma queda generalizada das commodities”, destaca o economista.
Segundo ele, os bancos centrais agora precisarão intensificar a vigilância sobre as pressões inflacionárias, que ainda não foram contidas. Assim, é menos provável que haja cortes de juros mais profundos, e mesmo que eles aconteçam antes, como uma resposta à desaceleração.
“Ao mesmo tempo, qualquer resposta fiscal chegaria em um momento de juros ainda altos e de grande sensibilidade dos investidores em relação a déficits e dívidas. Os orçamentos correm o risco ficar ainda mais pressionados, diante de arrecadações menores de impostos e de demandas maiores de gastos.”
Ainda de acordo com El-Eiran, não dá para se ignorar que os dois referenciais financeiros globais mais importantes, os títulos do Tesouro dos EUA e o dólar, tiveram uma resposta inicial relativamente moderada ao ataque israelense.
Ambos tiveram uma pequena onda de valorização, mas nenhum apresentou o tipo de "ganhos de porto seguro" que a experiência histórica nos levaria a esperar. E isso também importa no longo prazo, reitera o presidente do Queens' College de Cambridge.
Ele observa que, dada a longa influência dos EUA sobre a economia mundial e seu longo período de excepcionalismo econômico, parte importante do resto do mundo tem uma exposição "acima da média" no dólar e nos ativos americanos em geral. Assim, quanto mais se enfraquecer o papel americano no centro da ordem global, maior será o incentivo para os países reduzirem essa exposição.
“De qualquer lado que se observe, em termos de efeitos econômicos e financeiros, este novo acontecimento no Oriente Médio é uma má notícia, em um mau momento”, diz El-Erian.